Como o contraturno escolar pode ajudar no desafio da defasagem

Contraturno escolar como aliado na recuperação da aprendizagem.

contraturno escolar é o período de atividades que a instituição oferece fora do horário de aulas. Claudia Costin comenta sobre esse e outros assuntos ao longo do artigo, vem conferir!

 

Claudia Costin  é conselheira do Instituto Alicerce e está entre os nomes da equipe de transição da educação do governo em 2023. Foi Diretora Global de Educação do Banco Mundial e, em 2019, membro da Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Foi ministra da Administração e Reforma do Estado, secretária de Cultura do Estado de São Paulo e secretária de Educação do município do Rio de Janeiro. É articulista da Folha de São Paulo, comentarista-especialista em educação para a CNN Brasil e cofundaodra do movimento da sociedade civil, Todos Pela Educação. Integra, desde o final de 2020, o UIL – Instituto para Aprendizagem ao Longo da Vida – Institute for Lifelong Learning – da Unesco e o Conselho da Qatar Foundation.

 

 

Em que medida você entende que as atividades no contraturno escolar podem ajudar no desafio da defasagem agravada pela pandemia?

Claudia: As atividades no contraturno podem sim ajudar a enfrentar o desafio de defasagem que foi agravado pela pandemia. E elas podem fazer isso de forma lúdica, mas ensinando o aluno também a desenvolver esforço. Então ter atividades organizadas, de aprendizado daquilo que não foi aprendido no turno ou no contraturno, por meio da escola convencional ou do professor com apoios, inclusive, com o uso de tecnologia para que isso aconteça pode ser muito bom. É muito importante que nessas atividades de contraturno se possa avaliar e monitorar se a criança está superando as suas insuficiências de aprendizagem. A pessoa que trabalha com essa criança, um professor ou monitor, possa apoiar a aprendizagem do aluno no nível em que ele se encontra.

 

Contraturno escolar pode ser a solução para a recuperação e aceleração da aprendizagem.

 

Além da defasagem escolar, a evasão de crianças e adolescentes foi um dos principais desafios de 2022. Como pensar em estratégias além do contraturno escolar para trazer o aluno de volta pra sala de aula?

Claudia: Muitos alunos, especialmente no fundamental II e no ensino médio, abandonaram a escola. Parte disso se deu porque não tiveram como aprender ou não tinham conectividade, equipamentos e livros. Algumas redes não mandaram material escrito para aprendizagem em casa, e esses alunos acabaram abandonando a escola. Outros abandonaram porque não se adaptaram a esse estilo de ensino-aprendizagem e, quando retornaram, não sentiram que a escola dialogasse com toda essa experiência tão desafiadora que eles viveram. Seja a escola não foi acolhedora, ou não cuidou de diminuir as desigualdades educacionais que se aprofundaram com a pandemia, e então alguns adolescentes e jovens se sentiram deixados para trás, acumulando insuficiências e nao vendo a sua não-aprendizagem endereçada pela escola. É muito importante que as escolas em 2023 olhem com atenção para esses adolescentes e jovens que, eventualmente, a busca ativa trouxe de volta para escola e consigam, de uma forma engajadora recompor aquilo que foi perdido. Outra alternativa é usar estratégias no contraturno que reconectem esses adolescentes e jovens com a aprendizagem – aqui estou enfatizando esse público porque eles não têm família, muitas vezes, insistindo para que eles se mantenham em ambiente escolar -. Evidentemente o mesmo deve ser feito com as crianças, em especial, as crianças que não se alfabetizaram. Infelizmente estamos com muitos alunos do quarto e quinto ano que não estão alfabetizados.

 

Os dados do SAEB 2021 mostraram que os níveis de aprendizagem em português e matemática caíram em todas as etapas de ensino e, os piores desempenhos vieram dos primeiros anos do ensino fundamental. Quais serão os principais desafios dos municípios e do Brasil e principalmente, quais medidas serão necessárias para melhorar esses indicadores em 2023?

Claudia: Em 2023 vamos precisar com urgência recompor as aprendizagens perdidas. Criar um processo de não só fazer isso no contraturno, como normalmente se faz, mas no próprio turno escolar. Há uma proposta pedagógica que se chama Teaching at the Right Level (TaRL) ou Ensinando no nível certo de aprendizagem do aluno, em que algumas vezes por semana se separa os alunos por nível de aprendizagem em portugues e em matemática, para que aquilo que se perdeu ou que não se logrou a aprender no tempo certo, possa ser recomposto sem fazer com que o resto da classe tenha que esperar. E, ao mesmo tempo, os alunos ficam no mesmo nível que os outros colegas da mesma faixa etária para as demais disciplinas. Além disso, teremos que começar a partir de 2023 a assegurar que todas as crianças saiam com um nível aceitável de alfabetização do primeiro ano do ensino fundamental, e para tanto, é importante que a gente abandone teorias de alfabetização ou abordagens de alfabetização que não tem base em evidências científicas. Há muitos anos se comprovou que a alfabetização usando o método global, partindo do pressuposto que a criança tem a leitura e a escrita como habilidades inatas não é verdadeiro. Então é importante que se possa ensinar o código letrado já desde a pré escola, de forma lúdica. Com certeza esse é um dos eixos da primeira infância, e ao mesmo tempo, que se garanta que a criança desenvolva consciência fonológica. Em matemática é importante que a criança também na primeira infância aprenda a pensar matematicamente, e isso também pode ser feito de forma lúdica. Recompor essas aprendizagens, ensinando os professores a trabalhar com dados de aprendizagem é algo extremamente importante e já pode começar a ser aplicado em 2023, é coerente com a BNCC e com as abordagens mais contemporâneas voltadas à educação nos anos iniciais.

 

Como você enxerga a participação do Terceiro Setor na educação pública? De que maneira o setor pode contribuir para melhoria dos indicadores educacionais, sem que as redes percam autonomia e independência?

Claudia: Em várias partes do mundo a sociedade civil apoia as escolas, apoia a aprendizagem dos estudantes e nesse contexto pandêmico, da mesma maneira que o terceiro setor apoiou a saúde, muitas iniciativas interessantes vêm sendo feitas para apoiar os alunos que não aprenderam para apoiar as escolas nesse difícil contexto. Uma das maiores crises recentes que nós vivemos, a crise da insuficiência da resposta educacional a covid. Então nesse sentido algumas experiências importantes vem acontecendo desde o monitoramento dos dados que vem sendo feito pelo todos pela educação o apoio aos municípios no processo de alfabetização e re-alfabetização dos mais velhos pela fundação Lemann e eu gostaria de destacar aqui o Instituto Alicerce que vem adotando uma estratégia bastante interessante de ao mesmo tempo em que se faz avançar os alunos em disciplinas mais diversas inclusive em inglês e até exercícios físicos, educação física. Recompor as aprendizagens que se foram perdidas em especial em portugues e matemática fazendo com que o próprio aluno consiga entender melhor o que ele não sabe ainda, e que trilha ele precisa seguir para que ele possa ter mais sucesso escolar e tendo mais sucesso escolar ele desenvolve mais autoestima ele se sente melhor no ambiente escolar e diminuindo com isso o risco de abandono escolar.

O Instituto Alicerce

Somos uma organização sem fins lucrativos fundada em 2019 que tem como objetivo reduzir as desigualdades educacionais. Trabalhamos de forma presencial no contraturno escolar, resgatando e acelerando a aprendizagem dos alunos das redes públicas de ensino do país.
Somando mais de 15 mil estudantes impactados pelo nosso programa.
Você, gestor público, quer melhorar os indicadores educacionais do seu município mas não sabe como? Nós podemos te ajudar.

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